Por Raul Casanova No Brasil, milhares de trabalhadores sofrem acidentes de trabalho todos os anos — muitas vezes em número ainda maior do que o apontado pelas estatísticas oficiais, que consideram apenas os trabalhadores com carteira assinada. Muitos desses casos resultam em sequelas permanentes; outros, infelizmente, em desfechos fatais. Apesar dos avanços normativos e tecnológicos, a realidade é que a prevenção ainda é negligenciada em grande parte das atividades econômicas, especialmente naquelas exercidas por profissionais informais, autônomos, servidores públicos e empregadores individuais. Nesse contexto, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) surgem como a principal linha de defesa — e, muitas vezes, a única — entre o trabalhador e o risco iminente. Riscos não escolhem vínculos empregatícios O corte, o impacto, o ruído, a exposição a produtos químicos ou à radiação não fazem distinção entre um operário de uma grande construtora, um gari contratado por uma prefeitura ou um pintor autônomo que presta serviços por conta própria. Todos estão igualmente vulneráveis. Por isso, o uso de EPIs adequados, bem selecionados e corretamente utilizados precisa ser universalizado — independentemente da formalização da atividade ou do vínculo empregatício. Trabalhadores informais e autônomos, em geral, não contam com suporte técnico, treinamentos, medidas coletivas de segurança nem acompanhamento de profissionais especializados em SST. Para esses milhões de brasileiros, o EPI representa a única chance real de voltar para casa em segurança ao fim do dia. Prevenir é possível — e os dados comprovam O mais alarmante é que, em muitos casos, os acidentes ocorrem, não por falta de EPIs no mercado, mas por ausência de acesso, desinformação, falta de fiscalização ou, pior, descaso com a vida do trabalhador. Se o uso dos EPIs fosse tratado com a seriedade necessária por toda a sociedade — empresas, governos, trabalhadores e consumidores — milhares de vidas poderiam ser salvas todos os anos. Além disso, haveria significativa redução dos custos com saúde pública, previdência social e perda de produtividade. Custo ou investimento? O EPI é, na verdade, um investimento direto na preservação da vida, na continuidade do trabalho e na sustentabilidade do negócio. Empresas que priorizam a segurança tendem a ter menos afastamentos, maior produtividade e melhor reputação no mercado. Para o trabalhador, o EPI representa a garantia de continuar exercendo sua profissão com saúde e dignidade. Políticas públicas e responsabilidade compartilhada Campanhas educativas, programas de distribuição, incentivos fiscais e regulamentações mais abrangentes podem contribuir para universalizar o direito à proteção. Além disso, os EPIs disponíveis devem ser certificados, confortáveis, eficazes e de qualidade comprovada. O trabalhador não pode receber um equipamento simbólico ou ineficaz apenas para “cumprir tabela”. Enquanto a segurança continuar sendo tratada como algo secundário, seguiremos lamentando tragédias evitáveis com ações simples. Defender o uso de EPIs é defender o direito à vida, ao trabalho digno e à integridade física de milhões de brasileiros. É hora de transformar a cultura da negligência em cultura da prevenção. Em pleno século XXI, não podemos aceitar que vidas sigam sendo colocadas em risco por omissão, desinformação ou descaso. EPIs salvam vidas — e precisam estar ao alcance de todos. |
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